
Pedagogia Sistêmica
A Pedagogia Sistêmica é uma abordagem inovadora que integra os princípios das Constelações Familiares de Bert Hellinger ao universo da educação. Ela nos convida a ir além do comportamento aparente do aluno e das dinâmicas superficiais da sala de aula, buscando compreender as forças invisíveis e as interconexões que atuam nos sistemas humanos – a família, a escola e a comunidade.
Os fundamentos: As Ordens do Amor na educação
No cerne da Pedagogia Sistêmica estão as três Ordens do Amor (ou Leis Sistêmicas), que regem todos os sistemas:
1. Lei do Pertencimento: Todos têm o direito de pertencer ao sistema, independentemente de suas características, comportamentos ou histórico. Na escola, isso significa reconhecer e incluir verdadeiramente cada aluno, com sua história familiar, suas particularidades e seu lugar único. Quando alguém é excluído ou esquecido, o sistema busca compensar essa exclusão, o que pode se manifestar em comportamentos desafiadores ou dificuldades de aprendizagem.
2. Lei da Ordem (Hierarquia): Existe uma ordem natural nos sistemas, onde quem veio antes tem precedência. Na educação, isso implica reconhecer que os pais são os primeiros educadores e vêm antes dos professores na hierarquia de influência sobre a criança. O professor, por sua vez, tem seu lugar específico e fundamental na ordem da escola. Respeitar essa ordem evita conflitos de autoridade e papéis, criando um fluxo mais harmonioso.
3. Lei do Equilíbrio (Dar e Receber): Busca-se o equilíbrio nas trocas. No contexto educacional, isso envolve um fluxo saudável de dar e receber entre professor e aluno, escola e família. Quando há um desequilíbrio (por exemplo, a escola tentando assumir um papel que é da família, ou o aluno se recusando a receber o que é oferecido), surgem tensões que afetam o processo de ensino-aprendizagem.
Família e Escola: Uma conexão sistêmica
A Pedagogia Sistêmica oferece um olhar profundo sobre a intrínseca relação entre a família e a escola. O aluno não é um indivíduo isolado, mas um reflexo do seu sistema familiar. A "mochila invisível" que ele traz para a sala de aula contém histórias, padrões, lealdades e emaranhados familiares que podem influenciar diretamente seu comportamento, desempenho e bem-estar na escola.
• Lealdades invisíveis: Comportamentos aparentemente inexplicáveis podem ser manifestações de lealdades inconscientes a membros da família. Um aluno com dificuldades de aprendizagem pode estar, por exemplo, em solidariedade com um familiar que também teve problemas escolares.
• O lugar de cada um: Quando os pais e a escola reconhecem e respeitam seus respectivos lugares – os pais como os primeiros e principais educadores, e a escola como parceira no desenvolvimento do aluno – a criança se sente segura e livre para aprender e se desenvolver plenamente.
• Compreendendo comportamentos difíceis: Ao invés de focar apenas na punição ou correção, a abordagem sistêmica busca compreender a origem do comportamento, muitas vezes ligada a dinâmicas familiares. Isso permite intervenções mais compassivas e eficazes, que consideram o sistema como um todo.
Inclusão escolar na perspectiva sistêmica
A inclusão, sob a ótica sistêmica, vai muito além das adaptações curriculares e da acessibilidade física. Ela se aprofunda na Lei do Pertencimento, buscando garantir que cada aluno, especialmente aqueles com necessidades educacionais especiais, sinta-se verdadeiramente parte do sistema escolar, com seu lugar reconhecido e respeitado.
• Pertencimento genuíno: A Pedagogia Sistêmica nos convida a olhar para o aluno com deficiência ou dificuldades como um membro completo do sistema, com sua história e seu lugar de direito. Isso significa acolher não apenas o aluno, mas também sua família e sua história, sem julgamentos ou exclusões.
• Olhar ampliado: Ao invés de focar apenas na deficiência ou no diagnóstico, a abordagem sistêmica nos permite ver o aluno em sua totalidade, considerando as dinâmicas familiares que podem estar influenciando seu processo de inclusão. Por exemplo, a superproteção familiar ou a não aceitação de um diagnóstico podem impactar a autonomia do aluno na escola.
• Intervenções sistêmicas: A inclusão sistêmica propõe que as intervenções sejam pensadas para o sistema como um todo – envolvendo pais, professores, colegas e a gestão escolar – para que todos possam encontrar seu lugar e contribuir para um ambiente verdadeiramente inclusivo. O objetivo é criar um campo de aceitação e respeito onde o aluno possa se desenvolver em seu máximo potencial.
Transformando a prática docente
Adotar a Pedagogia Sistêmica é uma mudança de postura que capacita o educador a:
• Ampliar o olhar: Ver o aluno em seu contexto familiar e sistêmico, compreendendo as raízes de seus comportamentos.
• Respeitar lugares: Reconhecer e honrar o lugar dos pais e o seu próprio lugar na hierarquia educacional.
• Desenvolver empatia: Lidar com comportamentos desafiadores com maior compreensão e compaixão.
• Criar intervenções eficazes: Desenvolver estratégias que considerem o sistema como um todo, promovendo soluções duradouras.
• Promover o autocuidado: Entender que o educador também faz parte de um sistema e precisa cuidar de si para poder dar o seu melhor.
A Pedagogia Sistêmica não substitui outras metodologias, mas as enriquece, oferecendo uma lente poderosa para navegar pelos desafios complexos da educação contemporânea e construir ambientes de aprendizagem mais harmoniosos, inclusivos e eficazes.